8.2.06
NOMADISMO URBANO
NOMADISMO E DESTERRITORIALIZAÇÃO URBANOS: NOVA YORK
Fábio Duarte (fduarte@usp.br)
As discussões contemporâneas sobre nomadismo partem do ensaio escrito pelos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari (1). Eles iniciam o texto com algumas diferenças entre dois jogos de tabuleiro: xadrez e go. No primeiro há regras internas, cada peça/objeto traz consigo todas as possibilidades de movimento, todas suas ações inerentes, com a intenção de se ocupar o maior número de casas com o menor número de peças. O espaço é fechado, forma-se a estrutura de Estado, numa guerra codificada. No go, ao contrário, as peças/objetos são apenas discos com simples ordenações aritméticas em relação as posições que ocupam, com valores equânimes, e as ações são realizadas por outras pessoas (quem as move). O espaço é aberto e valores externos são incorporados ao jogo, numa guerra sem limites de batalha. Aí está uma das essências do espaço nômade: o espaço da protogeometria, que não é inexata como as coisas e fenômenos sensíveis, mas tampouco exata como essências ideais. A figura do círculo é fixa, exata, ideal; mas a circularidade têm essência fluida, vaga. Não forma uma figura precisa, mas não deixa dúvidas de que uma taça porta a circularidade e uma caixa de sapatos, não. O espaço nômade seria, então, anexato, posto que não preciso, mas rigoroso. Como enlace ao tema deste ensaio, Deleuze e Guattari propõem que o espaço do xadrez é a polis, e o do go é o nomos. A polis tem uma estrutura definida, e definidora, de objetos, agentes e ações – portanto, um território constituído -; no xadrez tem-se consciência dessa estrutura primeira, e o jogo consiste, a cada movimento das peças, num processo de codificação e decodificação do espaço da polis, sem jamais desconfigurá-lo. No nomos é o espaço impreciso, “esfumaçado”, sem uma estrutura definidora; no jogo go, cada lance da peças consiste num processo de territorialização e desterritorialização desse espaço, sem contudo, jamais atingir-lhe uma codificação plena – pois inexistente. O espaço das grandes cidades, com seu fluxo incessante de pessoas vindas de diversos lugares, um imbricamento de interesses e ações de campos distintos, a influência de ações de escala local e global, transforma-a num campo rico para análise de manifestações da cultura moderna e contemporânea. Neste mesmo inverno de 1987, a galeria Clockhouse abrigava a primeira exibição do projetos do Homeless Vehicle, do designer Krzysztof Wodiczko. Parecido com um carrinho de supermercado, construído com placas de alumínio, barras e grades de aço, e plexiglass, a primeira pergunta que suscita é: pra que serve isto? O estranhamento aumenta quando alguns moradores de rua, que haviam participado das discussões e elaborações do projeto, começaram a utilizar o Homeless Vehicle (HV) nas ruas. Mas, afinal, o que faz essa pessoa empurrando esse carrinho nas ruas da cidade?
Num primeiro momento ocupam os espaços públicos, como monumentos, jardins, praças, imediatamente seguido de um policiamento (ou seria um des POLIS ciamento) dessas áreas, excluindo-os, assim, não só das esferas privadas das cidades como também da esfera pública. Os evitados ocupam então túneis de metrô, vãos sob as pontes e viadutos, buracos, e perambulam. Os homeless passam grande parte do dia caminhando. Sem ponto de partida, sem destino, são nômades caminhando pela malha urbana, e, poderíamos dizer, pelos seus interstícios. A cidade está marcada por territórios e referências físicas – bairros, rios, edifícios, marcos, monumentos, praças – que servem como ordenadores do cotidiano urbano. Os usuários elegem alguns desses elementos, ligados à moradia ou local de trabalho, como referenciais na construção de seus mapas mentais. O homeless perde a casa como referência primeira. Seus mapas mentais são compostos segundo sua permanente circulação. Têm consciência dos pontos espaciais que conformam a cidade, mas os perdem como referências essenciais e afetivas. A única referência para o evitado, moral ou espacial, em última análise, é ele mesmo. O homelesses assume a figura do nômade nos intestinos das cidades. No deserto, o nômade, sem referências físicas fixas para lhe guiar, caminha num terreno que apaga seus rastros, fazendo com que possa andar numa pequena região, geometricamente, caminhando infinitamente. O nômade, como notam Deleuze e Guattari, é o desterritorializado por excelência, pois ele não deve ser definido pelo que se move, mas justamente pelo que não se move. Dentro do mesmo espaço ocupado pela polis, mas desagregado dela, o evitado ocupa o nomos, espaço impreciso, “vagabundo”. Faz seus caminhos nos interstícios da cidade não tendo princípios, mas apenas um ponto sendo conseqüência de outro. Nesse sentido, o seu território é construído de maneira coordenativa, não subordinativa, como o espaço codificado da polis.
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